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Precisamos dialogar mais ou aprender a dialogar?

  • Foto do escritor: Célia Chueire
    Célia Chueire
  • 16 de mai. de 2022
  • 3 min de leitura

Numa tarde qualquer, você chega ao escritório de um cliente, que está às voltas com a desordem da mesa, papéis aguardando assinatura e projetos em andamento. Sua atenção e a dele parecem dispersas e capturadas pelas demandas profissionais.


Depois de uma troca de cumprimentos formais, sem apelos e um sentimento pairando no ar de “tenho mais o que fazer, diga logo a que veio”, talvez você até se sinta inconveniente por insistir na visita àquele fornecedor. É possível que já tenha percebido que a comunicação entre vocês dois será truncada, imperfeita e insuficiente. “Gostaria de conversar com você sobre a data de entrega das peças que solicitou”.


Não há sorrisos, a hora parece imprópria, o assunto precisa ser resolvido nessa tarde, não há mais possibilidade de adiamento nem de cancelamento do negócio. É apenas um detalhe técnico, mas parece que tudo está complicado. Há tensão no ambiente e você se vê em palpos de aranha pois precisa voltar com uma resposta para que se obtenha novas decisões. Coisas de mercado. Bem, ele lhe dá o crédito esperado e mostra compreensão com seu pedido. De fato, ele nem sabe bem como resolverá o problema com o atraso das peças, sem contar que ainda há problemas com aquele projeto, tem o documento que espera sua assinatura e acabou de perceber que está com erros, o projeto que será adiado mais uma vez, e o café que aliás nem lhe ofereceu, já esfriou.


Você já pode ir embora depois de um ligeiro aperto de mão, sorrisos um tanto amarelos e especulando se a hora da visita foi inadequada. Mal dialogaram. Foi por causa das circunstâncias ou por causa da inabilidade, de um deles ou de ambos, para dialogar sobre a questão que motivou a visita? Investigando um pouco mais, será que o que dialogaram foi suficiente? Aliás, diálogo é mesmo necessário?


O termo diálogo tem origem no latim dialŏgus, que provém da palavra original grega formada por dia-, que significa “por intermédio de”, e por logos, que significa “palavra”. Pode-se entender que diálogo é uma conversa entre duas ou mais pessoas, que manifestam ideias de forma alternativa, ou em contraponto. Neste sentido, um diálogo é também uma discussão ou uma partilha de perspectivas com vista a chegar a um entendimento. Mas há diálogo com as palavras, há diálogo com o silêncio, há diálogo com os olhares, há diálogos os mais diversos. E um diálogo, para ser eficiente, é entremeado por algumas condições se desejarmos uma comunicação produtiva.


A atenção plena é fator imprescindível porque sem estar presente no tempo e espaço não se entabula boa comunicação. Ou não é verdade, que vez ou outra, um interrompe o diálogo para inquirir: “Você ouviu o que eu falei?” ou algo como “onde você está com a cabeça?”


Pessoas há com as quais se conversa, ou se tenta dialogar, e se percebe que não se contava com a outra parte em todo o tempo que durou a conversa. Outra coisa é considerar se o tema do diálogo é pertinente ao outro porque enquanto um fala de futebol o outro de música. Muita das vezes, a questão impeditiva é minha autoestima e o fato que suscita a discussão. Não se ouve com os ouvidos com que se espera ser ouvido. Diálogos ameaçadores, mesmo sem intenção, mas que de alguma maneira, ferem a identidade da outra parte, não darão em nada.


Outra coisa, é a ansiedade pelo protagonismo que pode fazer você querer ser mais interessante do que interessado. Certamente você conhece pessoas que são verdadeiras narcisistas vernaculares pois só se ouve suas vozes à mesa, na reunião ou no cafezinho. Não há chance para a outra parte.


Aprender a ouvir é fundamental para qualquer diálogo. E para liderança. Obviamente não se deve esquecer que ainda que haja diálogo efetivo, é preciso analisar a intencionalidade das partes que pode estar contaminada pelos seus próprios desejos e vontades.


Seria cômico se não fosse trágico, o humor irônico de dois personagens quando um deles pergunta ao outro: “Posso te convidar para sair? Ao que o outro responde animado talvez já até imaginado um bom restaurante: Eheh, mas claro que pode!! Passam-se longos segundos, e o que fez a pergunta diz de forma categórica: Então, por favor, saia!


Dialogar não é fácil, mas é preciso dialogar e a aprender cada vez mais.

 
 
 

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